sábado, 13 de fevereiro de 2016

Se você tem ataques de fúria frequentes, pode estar doente...A boa notícia para quem sofre de TEI é o transtorno ter solução.

PUBLICADO EM 25/05/14 - 03h00





Um plano de aula que não saiu como o imaginado, uma notícia na TV, uma roupa não servir, um desentendimento com o pai. Todos esses e muitos outros são motivos para que a professora de balé Jessyca Sampaio, 21, perca o controle e tenha um ataque de fúria.

“São momentos em que eu me desconheço. Algumas vezes, quebrei utensílios de casa e fiz um buraco na parede do quarto ao arremessar um celular”, conta. Os ataques vêm com um misto de sensações e sentimentos: tensão, formigamento, tremores, palpitações e pressão na cabeça são algumas das sensações. “Até mesmo decepção comigo, dependendo do caso”, completa.
Mais do que falta de paciência, Jessyca tem sintomas típicos do Transtorno Explosivo Intermitente (TEI). “É uma patologia psiquiátrica em que existe falha no controle do impulso da agressividade gerando comportamentos exaltados e desproporcionais”, explica a psicóloga clínica Ana Maria Costa. Ela é colaboradora do Ambulatório dos Transtornos do Impulso Pro-Amiti, do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (USP). “São pessoas que têm uma reação explosiva e sempre muito desproporcional à situação que a desencadeou. Normalmente, são vistas como bacanas, de bem com a vida. Mas, em algumas situações, elas se descompensam e têm explosões de raiva”, acrescenta a psicóloga clínica Vânia Calazans, especialista em TEI.


Recorrência. Outra característica importante é a frequência. É preciso mais do que um ataque de raiva para a pessoa ser considerada paciente de TEI. “Todo mundo tem um dia de fúria, mas você não fica explodindo o tempo todo e tendo esse comportamento recorrente”, afirma Vânia.
Depois do “estouro”, vem a culpa. “A pessoa pode ter um mal-estar. Ela passa mal, mas não sabe dizer por quê. É o que chamamos de ‘ressaca moral’, que pode durar vários dias”, afirma o psicólogo Amadeu Roselli Cruz, professor da Universidade Federal de Minas Gerais.

Quem conhece bem as “ressacas” é o arquiteto Tadeu*, 40. Ele, que teve três casamentos desfeitos pelas explosões de raiva, tenta agora salvar um quarto relacionamento. “Sempre que fico muito nervoso não quero ser grosseiro, procuro segurar as pontas, mas aí, de repente, às vezes por muito pouco, tenho vontade de arrebentar o mundo. 

Depois quero morrer de vergonha, fico péssimo, peço milhões de desculpas”, diz.
Tadeu procurou uma terapeuta e agora está aprendendo a lidar melhor com sua raiva. “Saber que tinha tratamento foi um alívio e depois que comecei a me tratar me sinto gente. Antes me sentia um animal feroz preso numa coleirinha, mas sabendo que em algum momento a coleira ia arrebentar. Estou aprendendo a trabalhar com meus sentimentos”, diz.
Uma pesquisa de 2012 feita pela World Mental Health – São Paulo revelou que 3,1% dos entrevistados foram diagnosticados com TEI. As causas podem ser genéticas, mas o principal fator é ambiental. “Dificilmente encontramos um paciente que não tenha alguém na família que manifeste o mesmo comportamento”, declara Vânia.
* Pseudônimo usado a pedido do entrevistado.
Serviço
Informações.
 Mais detalhes sobre o TEI podem ser encontradas no sitewww.souexplosivo.com.br. Na página “Tanstorno Explosivo Intermitente”, no Facebook, é possível esclarecer dúvidas.


Terapia, hipnose e remédios ajudam a vencer o problema

A boa notícia para quem sofre de TEI é o transtorno ter solução. O tratamento é feito com terapia e, em alguns casos, medicamentos. “A terapia cognitiva comportamental tem bons resultados porque trabalha objetivamente técnicas de relaxamento. Eu também uso hipnose junto”, diz a psicóloga Vânia Calazans.

No Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (USP), um grupo oferece tratamento gratuito para os pacientes de TEI no Ambulatório dos Transtornos do Impulso (Pro-Amiti). “Como as causas não são bem-definidas, cada caso pode responder de uma maneira. O importante é que o portador com tratamento psicológico e medicamentoso poderá perceber o que faz e gerenciar melhor seus comportamentos”, revela a psicóloga Ana Maria Costa, que participa do grupo.

Quem tiver comportamentos agressivos recorrentes pode buscar um psicólogo para obter ajuda.

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