terça-feira, 15 de setembro de 2015

Voce tem que saber disso! Na sua viagem a cavalo pelo Líbano, o imperador se encontrou com líderes religiosos, autoridades locais, cientistas e intelectuais.

Passeio árabe de Dom Pedro II...

Exposição em São Paulo celebra os 135 anos da visita do imperador ao Líbano. Trechos do seu diário sobre a viagem podem ser conferidos na mostra...
No fim do século XVIII, um grande número de escritores, intelectuais, reis e artistas conheceram países da Europa Oriental e Oriente Médio, como a Grécia, Turquia, Líbano, Síria, Palestina, Egito e Arábia Saudita. O Imperador do Brasil na época, D. Pedro II (1825-1891), visitou o Egito em 1871, e em 1876 visitou o Líbano, a Síria e a Palestina.
O Imperador esteve no Líbano acompanhado de sua esposa Dona Tereza Christina Maria e de uma comitiva de aproximadamente 200 pessoas (Barões, Viscondes, Damas...), vindo da Grécia no navio “Aquiíla Imperial”, de bandeira verde e amarela. Hospedou-se no “Hotel Belle Vue” em Beirute e, munido de uma égua branca e uma mochila, percorreu o país dos cedros. Esta visita, de uma alta autoridade brasileira em tal época, pode ser considerada de grande valor histórico, apesar de a mesma ter sido em caráter turístico e científico.
Em sua estada no Líbano, de 11 a 15 de novembro de 1876, o Imperador escreveu ao seu amigo, o diplomata francês Joseph Gobineau, que ficara em Atenas, Grécia: “Tudo vai bem... A partir de hoje começa um mundo novo. O Líbano ergue-se diante de mim com seus cimos nevados, seu aspecto severo, como convém a essa sentinela da Terra Santa...” (Arquivo Histórico de Estrasburgo – França).

Em Beirute, D. Pedro II visitou o Colégio Protestante Sírio (fundado em 1866, e que, mais tarde, tornou-se a Universidade Americana de Beirute), o Colégio Francês dos Jesuítas (fundado em 1875 e que veio a ser a Universidade Saint Joseph) e outras instituições. Encontrou-se com grandes mestres das ciências e da literatura, dentre os quais o famoso gramático de língua árabe Ibrahim Al-Yazigi, que lhe ofereceu vários livros em árabe ornados com palavras dedicatórias (tais livros encontram-se hoje no Museu Imperial de Petrópolis-RJ); visitou o grande Professor Cornelius Van Dyck, do qual assistiu uma aula sentado em meio aos alunos, dentre os quais estava Nemi Jafet, intelectual pioneiro da emigração para o Brasil. 

Em Bkerké, visitou o Patriarca da Igreja Maronita, Boulos Mass’ad (1854-1890). Em Baabda, visitou o Governador-Geral Rouston Pacha Mariani (1854-1883). Em seguida, o Imperador continuou sua viagem em direção ao Vale do Bekaa, a grande planície fértil do país, chegando à cidade de Chtaura. Naquela época a viagem era feita em carruagens da “Sociedade Otomana da Estrada de Beirute a Damasco”, fundada em 1861. O trajeto foi efetuado com muitas paradas, principalmente em Sofar e Chtaura.

Ao chegar no alto da Cordilheira do Monte Líbano (Daher Al-Baida), escreveu em seu diário: “Felizmente a chuva tinha cessado, clareando o tempo de modo a gozar da vista magnífica da planície de Bekaa”. A caravana era guiada pelos irmãos Antonio e Melhem Ward, libaneses maronitas de Beirute. Neste percurso de sua comitiva, escoltado por soldados, um deles seguindo à frente portando uma longa lança com a bandeira verde e amarela, o Imperador encontrou-se com vários camponeses e a eles falou da nova terra chamada Brasil, um vasto país fértil onde já se encontrava um pequeno número de libaneses vindos da Europa e do Egito.

Atravessando o Vale de Chtaura rumo a Baalbeck, passou por várias cidades, dentre elas Zahle, chegando ao seu destino a noite, quando escreveu em seu diário: “...a entrada nas ruínas de Baalbeck, à luz de fogaréus e lanternas, atravessando por longa abóbada de grandes pedras, foi triunfal e as colunas tomavam dimensões colossais”. O Imperador visitou os templos de Júpiter, de Vênus e observou tudo, mediu, tomou notas e por fim escreveu: “Saindo de Baalbeck, onde deixei meu nome com a data na parede do fundo do pequeno templo (Templo de Baco), está cheio de semelhantes inscrições, lendo-se logo depois da entrada estas palavras: “Comme le monde est bête!!!”. Deixando Baalbeck, dirigiu-se para Damasco, Síria, observando: “Reparei melhor para a planície, que apesar de coberta de seixos, é aproveitada para trigo e vinhas sobretudo. Perto de Baalbeck nasce o antigo Orontes, que vai banhar a Antioquia... A noite passada, encheram-se os cabeços dos montes de neve e que belo efeito produziram, vistos do fundo do grande templo, ou por entre as 6 colunas.”

Ruínas do complexo templário de Baalbeck
O Imperador ficou encantado com o dinamismo do povo libanês e disse:

“Gostaria de ver o maior 
número de vocês no Brasil, 
prometo recebê-los bem e 
tenham certeza de que 
retornarão prósperos”, o que 
realmente aconteceu. Hoje são 
mais de seis milhões de 
libaneses e descendentes no 
Brasil e cerca de 60 mil líbano-
brasileiros residentes no 
Líbano. 

Dois países amigos e com fortes laços humanos.

É interessante saber também que em Alexandria, Egito, encontra-se uma Igreja Greco-Melquita Católica (Rito Bizantino) dedicada a São Pedro, construída por um emigrante libanês no Egito, Conde Miguel Debbane (1806-1872) e Cônsul Honorário do Brasil em Alexandria. A igreja foi construída em 1868 em honra de Dom Pedro II, e em 1871 o Imperador visitou Alexandria e a igreja. Ainda nos dias de hoje as missas são celebradas em memória do Imperador do Brasil Dom Pedro II e do Conde Miguel Debbane. 

 Paulo – Dom Pedro II, que governou o Brasil de 1840 a 1889, gostava de viajar. Quando foi imperador do Brasil conheceu a Europa, visitou os Estados Unidos nas comemorações dos seus 200 anos de independência e não deixou de ir, claro, aos países árabes. Em 1871 visitou o Egito. Poucos brasileiros sabem, mas seis anos depois, ele voltou ao Oriente Médio, desta vez para rever o Egito e para conhecer Síria, Palestina e Líbano. Agora, 135 anos depois da passagem do imperador brasileiro pelo mundo árabe, sua visita de quatro dias ao Líbano é tema de uma exposição no SESC Vila Mariana, em São Paulo.
Marcos Carrieri/ANBA
Marcos Carrieri/ANBA
O imperador: quatro dias no LíbanA diretora da Associação Cultural Brasil Líbano, Lody Brais, diz que poucas pessoas sabem dessa visita do imperador ao Líbano. "No ano passado, nós celebramos os 130 anos da imigração libanesa para o Brasil e lembramos desta visita de Dom Pedro para lá. Sempre fazemos referência a este momento nas nossas celebrações", afirma Lody, que realizou a pesquisa junto com a diretora cultural da associação, Nouha Nader.


"Quando Dom Pedro se encontrou com os libaneses [em 1876], ele fez uma ótima propaganda do Brasil e disse que eles seriam bem-vindos no país, disse que poderiam vir conhecer e depois retornar ao Líbano. Mas eles vieram, gostaram do Brasil e não voltaram mais", diz Lody.
Marcos Carrieri/ANBA
Marcos Carrieri/ANBA
Bandeira emprestada pela Casa Imperial






Na sua viagem a cavalo pelo Líbano, o imperador se encontrou com líderes religiosos, autoridades locais, cientistas e intelectuais. Lá, conheceu Nami Jafet, filósofo que emigrou para o Brasil em 1893, onde criou uma fábrica de tecidos. Foi também na sua passagem pelo Líbano que ganhou livros de árabe. Dom Pedro até aprendeu algumas palavras do idioma.

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