domingo, 23 de junho de 2013

Este homem quer colocar um robô no seu bolso... se prepare...



Este homem quer colocar um robô no seu bolso... se prepare...


O que falta para que os robôs se tornem uma parte tão essencial de nossas vidas quanto nossos smartphones, TVs e computadores? Pergunte para o roboticista Tomotaka Takahashi. O célebre professor de Tóquio sonha em ser o “Steve Jobs da robótica”; para tanto, ele planeja se afastar de questões técnicas para priorizar o design e o charme de seus robôs.
Mas como ele quer fazer isso? Em poucas palavras, seu plano é construir robôs pequenos, fofos e comunicativos. E, é claro, conectados à internet; um smartphone, mas com rosto e membros. Para realizar esse feito, Takahashi tem um ás na manga: ele está se preparando para lançar um robô de bolso com todos os recursos da Siri, projetado para agir como seu melhor amigo.
“Infelizmente, a maioria dos profissionais no ramo da robótica não compartilha meu ponto de vista”, diz Takahashi. “Minha estratégia é: comprem smartphones humanoides em uma loja de celulares, em vez de comprar um robô caro em uma loja de robôs e tentar inseri-lo em nossas vidas.”
Takahashi, um renomado cientista e professor associado da Universidade de Tóquio, acredita que robôs amigáveis capazes de coexistir pacificamente com humanos são a chave para transformar os robôs pessoais na próxima febre do mercado. Essa é uma tendência antiga na indústria robótica japonesa: o Japão é o local de nascimento do Pepper, o androide que lê emoções humanas; do PaPeRo, o assistente pessoal fofinho criado em 2011; e dos cachorros robóticos da Aibo, que cativaram tanto o público que algumas pessoas chegaram a organizar funerais para esses bichinhos mecânicos.
“O futuro será divertido”, diz Takahashi. “Nem um pouco parecido com O Exterminador do Futuro.”

O Exterminador do Futuro destruiu nossa área

Mas nos Estados Unidos, um grande obstáculo ameaça o sucesso dos robôs pessoais: a imagem cultural dos robôs como máquinas mortíferas loucas para massacrar a humanidade (ou pelo menos roubar nossos empregos). Tudo isso graças à cultura pop e a décadas de investimentos na robótica militar.
“Enquanto a indústria de entretenimento do Japão retratava robôs como brinquedos superlegais, os Estados Unidos criavam robôs que queriam dominar o mundo e destruir a humanidade”, diz Richard Alan Peters, professor de robótica da Universidade Vanderbilt.
No Japão, a opinião pública em relação aos robôs é um pouco diferente. Os japoneses veem os robôs com mais naturalidade do que os americanos. A Honda, a Sony e a Fujitsu, grandes empresas japonesas, investem em projetos que visam produzir robôs trabalhadores, âncoras de jornal robóticos e até mesmo animais de aço. As preferências dos consumidores impulsionam pesquisas na área da robótica e a competitividade do mercado — dois fatores essenciais para colocar mais robôs nas lojas.
Até 2008, a maior parte do financiamento na área da robótica dos Estados Unidos vinha do Departamento de Defesa, que investia em robôs destinados para o uso militar. O Japão, no entanto, vende robôs para a população civil há décadas.
Há alguns meses, o mais sofisticado desses robôs pessoais, o Pepper, foi lançado, vendendo mais de 1.000 unidades em menos de um minuto. Os robôs estão ganhando cada vez mais espaço na sociedade: existem ursos polares robóticos que cuidam de idosos; o Aeroporto Haneda, em Tóquio, está prestes a instalar robôs que irão ajudar seus funcionários humanos, e muitas lojas japonesas estão interessadas em contratar representantes de venda robóticos.
Mas embora o Japão crie Peppers e Aibos, os robôs americanos costumam ser maiores, mais assustadores e voltados para a indústria. O Technology Review, um site do MIT, publicou um ótimo artigo em 2010 intitulado “Por Que os Japoneses Amam Robôs (e os Americanos os Temem)”. Nele, Chistopher Mims escreve:
O carinho de uma certa ilha em relação à toda a produção robótica — desde robôs guerreiros de centenas de metros de altura a robozinhos terapêuticos para crianças — é bem conhecido. Essa afeição se contrapõe fortemente com o medo de autômatos incutido na sociedade ocidental, começando com a invenção do termo “robô”, cunhada numa peça tcheca estreada em 1921 na qual os robôs, logicamente, se rebelavam e matavam seus mestres humanos.
“Robôs grandes e poderosos como o Big Dog são a especialidade americana”, diz Takahashi. “Nós nos especializamos em criar robôs comunicativos, pequenos, precisos e com muita personalidade.”
Peters sugere que essa dualidade tem origem nas diferenças culturais entre os dois países: o Japão é um país monocultural e coeso que valoriza a coletividade; já os Estados Unidos valorizam o individualismo, a independência e a ascensão social. “O Japão desenvolve máquinas segundo sua cultura, isto é, máquinas que podem trabalhar com eles”, diz Peters. “Os americanos criam máquinas que trabalham para eles.”

Seu próximo celular será um robô

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O exército de robôs de 30 centímetros de Takahashi dança em um café no distrito de Ginza, em janeiro. Os Robis reconhecem mais de 200 frases em japonês, andam, chutam bolas e dançam. Crédito: AP
Esse é um momento decisivo para o futuro dos robôs. Takahashi está prestes a lançar o que ele acredita ser o app mais importante da robótica; além disso, ele espera que sua mais recente criação inspire uma nova recepção entre os consumidores.
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Astroboy, o ícone dos animes/mangás, foto via Wikia
Takahashi já projetou mais de 40 tipos de robozinhos humanoides, todos construídos na sua oficina em Kyoto, a Robo Garage. Eles são uma graça; falam, correm, apostam corrida e dançam. Seus designs são todos parcialmente inspirados no Astroboy, o robozinho herói de um mangá dos anos 60. Ele crê que isso incentiva às pessoas a interagirem com seu produto.
As invenções de Takahashi já lhe renderam vários recordes do Guinness, incluindo a maior distância percorrida por um carrinho de controle remoto movido à bateria, o primeiro robô doméstico a ir para o espaço, e a maior altura na qual um robô teve uma conversa.
Suas expectativas para o futuro são ainda mais ambiciosas. Deixe sua imaginação fluir. Que tal um robô de 30 centímetros que varre o chão, anuncia a previsão do tempo, é um despertador, toca suas músicas do Spotify, distrai seus filhos durante festas, e ainda por cima funciona como um sistema de segurança doméstica? Ah, sem contar que ele sabe quando você está triste e conta piadas para te animar.
Em outras palavras, os próximos robôs de Takahashi serão smartphones humanoides que poderão substituir seu Galaxy. Mas esse robô será muito mais do que uma secretária automatizada. Takahashi quer que ele seja um amigo que acumule informações que irão te ajudar em todos os aspectos da sua vida, desde suas escolhas à sua relação com seus colegas de trabalho.
“Meu novo robô é um celular, e, como tal, será vendido por empresas telefônicas. Ele é um pouquinho maior do que o iPhone 6 Plus”, diz Takahashi. “Nós queremos que ele seja uma grande plataforma, como a Nintendo ou o iPhone”. O Huffington Post publicou mais alguns detalhes:
Em vez de compartilhar uma linda foto no Instagram ou sua opinião sobre um filme interessante no Twitter, você poderia falar sobre isso com seu robô. Não apenas isso, mas seu robô iria lembrar de todos esses momentos, mesmo anos depois. Sua relação com seu robô se fortaleceria ao longo dos anos através das memórias que vocês compartilham, disse Takahashi.
Você poderia usar seu robô para muitas outras coisas. Se você diz para seu robô que está com fome, ele poderia lembrar da última vez que você comeu, ou te informar que existe um restaurante japonês (seu tipo favorito de restaurante, como ele bem sabe) logo na esquina. Seu robô também poderia te ajudar a se aproximar de outros humanos, disse Takahashi. Por exemplo, se você estiver prestes a conhecer um novo colega de trabalho, seu robô poderia — após pesquisar na internet ou se comunicar com o robô da outra pessoa — te dizer que você e seu novo colega compartilham o mesmo hobby.
E ainda existe um grande potencial comercial. Quanto mais informação um dispositivo recolhe, mais lucrativo ele é. Suas recomendações na Amazon seriam sempre exatas, disse o Takahashi.
Resumindo, Takahashi está criando um canivete suíço que quer ser seu melhor amigo. Caso isso soe improvável, gostaria de lembrá-los que robôs estão cada vez mais presentes em convenções, lojas, e, pouco a pouco, em nossas casas.
Inspirados no movimento das casas inteligentes, esses pequenos robôs são muitas vezes criados para cumprir uma função específica, como molhar seu jardim ou limpar sua churrasqueira. Vários robôs desse tipo foram apresentados aos participantes da CES desse ano. Não há dúvida de que existe um crescente setor de empresas que querem comercializar robôs pequenos e convenientes. Essa tendência mostra que nem todos os robôs americanos são criados para a guerra ou para as linhas de montagem. (Da mesma forma que nem todos os robôs japoneses são simpáticos e fofinhos, variando entre máquinas industriais pesadas e robôs realistas desconcertantes.)
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Takahashi posa com robôs que correm, nadam e andam de bicicleta em uma coletiva de imprensa em 2011. Crédito: Getty Images
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Takahashi (à esquerda) com Kirobo, robô de sua criação que foi mandado para a Estação Espacial Internacional em 2013, tornando-se o primeiro robô desse tipo no espaço. Robôs como o Kirobo podem nos ajudar a estudar como os humanos reagem à longos períodos de isolamento. Crédito: RoboGarage

Quando as lojas de eletrônicos começarão a vender robôs?

De volta ao presente, em quanto tempo o sonho de Takahashi se tornará realidade? Por enquanto, os Estados Unidos e o Japão são os dois maiores produtores de robôs. (Supostamente, em breve nós veremos um duelo entre um robô gigante japonês e outro americano.) Logo, a chave para tornar os robôs irresistíveis para os consumidores americanos — ou ocidentais em geral — pode estar na junção das filosofias robóticas dos dois países.
“A pesquisa sobre Inteligência Artificial dos Estados Unidos está sempre um passo à frente”, diz Peters. “Já os japoneses entendem como os robôs devem interagir com as pessoas, como eles devem ser prestativos e simpáticos.”
Atingir um certo nível de conforto do consumidor, e ao mesmo tempo disponibilizar produtos inteligentes que resolvam problemas ou ofereçam serviços é absolutamente necessário para colocar os robôs na lista dos grandes dispositivos eletrônicos de nossos tempos: o iPhone, o Kindle, o Game Boy, a TV, a lâmpada.
O marketing tem um papel decisivo nessa missão. Noções preconcebidas sobre o que os robôs devem ser podem impedir que os robôs se tornem tão comuns quanto os smartphones, diz Stephen Baker, vice-presidente do setor de análise de mercado de eletrônicos de consumo da NPD. “O termo “robô” vai dificultar muito o processo de marketing”, diz Baker. “As pessoas iriam lembrar do Robby, o robô de O Planeta Proibido, ou o robô de Perdidos no Espaço.”
A opinião pública não é o único desafio. Peters diz que embora ele acredite que Takahashi esteja no caminho certo, ele não tem tanta certeza de que os robôs invadirão as casas americanas como os laptops, os DVRs e os videogames fizeram antes.
“Na minha humilde opinião, é bem improvável que os robôs se tornem tão populares quanto os smartphones”, disse Peters. “Por mais frustrante que lidar com um computador seja, pelo menos ele não interage fisicamente com nosso mundo. Já os robôs pessoais, apesar de terem suas qualidades, trarão outro tipo de frustração. Quando eles entrarem em pane, poderão quebrar coisas fisicamente… As pessoas irão, pelo menos no começo, acreditar que os robôs são mais inteligentes do que eles de fato são, e ficarão frustradas com sua incapacidade de entender um comando.”
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Muitos robôs japoneses são fofos e humanoides, como o Pepper, o robozinho que reconhece sentimentos e expressões faciais criado pela empresa de telecomunicação japonesa SoftBank. Crédito: AP
Como sempre, o dinheiro também é um problema. Para fazer o salto de fãs de tecnologia para o grande público, do nicho para o mainstream, os robôs precisam ser vendidos a um preço acessível. Pepper, por exemplo, é um robô que identifica emoções, criado para conversar e divertir seus donos, sejam eles uma família ou funcionários de um escritório. Mas ele também custa US$2000, o que é muito se levarmos em consideração os preços acessíveis da maioria dos eletrônicos (um iPhone, por exemplo, custa US$200 com contrato de dois anos).
Recapitulando: os robôs precisam de um ótimo marketing, precisam solucionar um problema único, e precisam ter um preço acessível. Baker menciona alguns produtos eletrônicos que não conseguiram fazer tudo isso, como os porta-retratos digitais e as TVs 3D.
Mas ele também aponta uma tecnologia emergente que está conseguindo cada vez mais espaço no grande mercado: os drones. Os drones resolveram um problema único — dar um acesso seguro, remoto e sem precedentes ao céu. Mas no início, eles custavam milhares de dólares, eram extremamente limitados ao uso militar, e eram fabricados por poucas empresas. Hoje, é possível comprar um drone no eBay.
Talvez algum dia os robôs façam muito sucesso; quem sabe no futuro você comprará robôs em miniatura para seus parentes? Pode ser só uma questão de tempo até que os robôs entrem em nossas vidas. Mas quando eles entrarem, será difícil lembrar como vivíamos antes deles.

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